domingo, 12 de julho de 2009

A vinda à Sampa...

Muitas coisas se passaram até virmos para São Paulo. Foram meses em Asunción até diagnosticarem a paralisia e até me deixarem em um estado mais equilibrado. Eu não mexia um músculo sequer. Só percebiam que eu chorava porque as lágrimas escorriam do meu rosto, nem careta eu não conseguia fazer. O tratamento que fizeram, posteriormente descobrimos que foi totalmente errado. Como eu tinha muita febre, era necessário abaixá-la, e a maneira que encontraram era me colocarem em banheiras com água gelada e cubos de gelo. Só que esse tratamento para pessoas com paralisia não poderia ser feito, pois a água gelada "mataria" os poucos músculos que porventura teimavam em estar vivos. E quase mataram.
Aos poucos e com muita persistência dos meus pais consegui sobreviver, até sair do perigo de morte, que foi eminente durante os três primeiros meses críticos. Tive alta. Alguns comemoraram, outros lamentaram, mas a vida é isso. Não podemos agradar 100%, né? Houve pessoas que lamentaram por eu ter sobrevivido, por causa das sequelas que ficaram, e que não foram poucas. Lamentaram pelos meus pais terem que, a partir daquele momento, conviver com uma criança totalmente diferente dos padrões ditos "normais". Eram outros tempos, tempos difíceis. Em uma cidade do interior do interior. Pessoas preconceituosas. Não foi fácil. Não deve ter sido fácil para meus pais. Mas também houve quem comemorou. Que ficou feliz por eu ter sobrevivido. Foi a 1ª batalha ganha.
E meus pais se viram com uma nenzinha, que precisava de muitos cuidados e que dependia deles para viver e principalmente sobreviver.
Os médicos recomendaram: ou vinhamos a São Paulo, ou deveríamos ir a Buenos Aires, onde havia mais recursos para o meu tipo de problema. E Sampa foi escolhida. Meu pai tinha família aqui. A irmã dele morava aqui (tia Armanda) e tinha também primas e primos, e nessa hora, mesmo que a família não seja uma família tão presente, é melhor do que estar com pessoas estranhas. Família é sempre família.
E viemos. Sampa. Cidade imensa, mas que nos acolheu de braços abertos, é minha cidade e não a troco por nada.
Fomos instalados no porão da casa de uma das tias. Eu, com 2 anos. Meu irmão com 3 anos e minha mãe. Meu pai só veio nos deixar, mas ele não pode ficar, já que ele tinha trabalho e tinha que trabalhar para poder nos sustentar aqui. Minha mãe, em gratidão à hospedagem, lavava roupas para meus tios e tias, enquanto eles saíam para trabalhar. Ela foi, digamos, uma espécie de empregada de "luxo". Trabalhava em troca de teto, sem direito à remuneração. Difícil. Muito difícil.
E nossa vida em Sampa se iniciou assim. Muitas pedras no caminho, muitos percalços. Mas muita garra e muita fibra também, tanto que estou aqui hoje, contando essa caminhada para vocês.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

A paralisia...

Tudo que sei do início da minha vida, óbvio que vem das histórias contadas pela minha família, mais especificamente contadas pela minha mãe, que é a pessoa que esteve e está ao meu lado até hoje e que acompanhou todas as minhas andanças por esta vidinha que tenho. Memórias minhas mesmo, só tenho a partir dos meus quatro anos de idade, portanto tudo que eu contar aqui que aconteceram anteriormente a esse período são mais observações feitas pela minha mãe do que propriamente ditas minhas.
Então, conta minha adorada mãe, que um belo dia, aos meus nove meses de idade acordei com muita febre. Como era a idade de nascer os dentes, ela achou que fosse isso e o pediatra também, então ela me deu dipirona para abaixar a febre e esperou a febre abaixar. Mas ela não abaixou. Piorou. No dia seguinte, eu já não mexia mais nenhum músculo. Minha mãe foi me pegar no colo e qual não foi o susto quando ela percebeu que eu não mexia nada. Minhas pernas estavam bambas, e eu ardia em febre.
Ela me pegou em seus braços e correu comigo até o pediatra. O médico não sabia direito o que eu tinha, mas como estava tendo um surto de meningite na região, ele achou que eu estava com meningite e pediu para que minha mãe corresse comigo na capital do Paraguay, Asunción, pois lá haveriam mais recursos. E tinha que ser naquele dia mesmo.
Lá se foi minha mãe em casa, pegar meu irmão (que também era um bebê, 2 aninhos) e o deixou com minha avó materna. Fomos então, eu e ela rumo ao Hospital das Clínicas de Asunción, Hospital modelo da capital.
Foram longos dias... tentando diagnosticar, até que chegaram ao diagnóstico final: havia contraído paralisia infantil.

domingo, 5 de julho de 2009

O Início de tudo...

Oioi genten, demorei mas estou aqui de volta para dar continuidade a minha história de vida. Nada melhor do que começar pelo início, não?
Nasci na cidade de Ponta Porã - MS, na verdade não foi bem em Ponta Porã, foi em Pedro Juan Caballero - Paraguay, cidade que faz fronteira com Ponta Porã. Eu sempre brinco dizendo que sou o "legítimo contrabando" hihihi... porque nasci no Paraguay por obrigatoriedade, já que na época Ponta Porã não tinha maternidade (que vergonha, não??).
Nasci aos 29 dias do mês de janeiro no ano de 1968, não sei a hora exatamente, creio que foi de madrugada, mas vim ao mundo saudável (até demais). Conta minha mãe que eu era tão gulosa, que a cada mês eu engordava 2kgs, em vez de 1kg como deveria ser o dito "normal".
Faço parte de uma humilde família. Meu pai, um batalhador... comerciante, pessoa simples mas muito esforçada. Para vocês terem uma idéia, ele se formou aos 67 anos de advogado (admirável!). Minha mãe, uma vencedora, que batalhou muito comigo para que eu me torne essa pessoa que sou hoje. Apesar de termos alguns atritos (pensamentos diferentes sobre muitos aspectos), ela é a responsável pelo que realmente sou. Meu caráter, meus valores, tudo foi ela que me passou, e só tenho a agradecer. Meu irmão, um gênio! Foi impossível alcançá-lo intelectualmente. Ele está a 100.000.000km de distância de mim em se tratando de intelecto. Também nunca pensei muito em segui-lo, pois já sabia que a caminhada seria em vão... tem coisas na vida que devemos perceber logo, senão a gente se frustra e não anda para frente.
Fatalidade? Destino? Qual seria a melhor palavra para definir o que me aconteceu? Não adianta definição... apenas, aconteceu...
A diferença de idade entre mim e meu irmão é de somente um ano e meio, ou seja, minha mãe tinha dois bebês em casa. Óbvio que com dois bebês, as atitudes que ela tomava em relação a um eram exatamente iguais as que ela tomava com o outro, portanto, penso que fui "a eleita".
Tinha nove meses de idade e tinha tomado a vacina da "Salt", na época Sabin não existia, ou se existia, era novo e não chegava aos interiores do Brasil. De qualquer forma, tinha tomado a vacina, mas pensem: a vacina chegava de trem a Ponta Porã, aliás, tudo lá chegava de trem, era o meio de transporte que colocava Ponta Porã em contato com o resto do Brasil. Só que qualquer vacina até nos dias de hoje, precisa de uma certa refrigeração para que ela não perca a validade. E imaginamos que, talvez, a remessa que eu tomei, ela estivesse vencida ou perdeu a validade por causa do má acondicionamento, sabe-se lá o que aconteceu... o fato é que, euzinha fui premiada...
E então, foi assim que esta aventura de 41 anos começou... o resto? Fica pra próxima... afinal, são 41 anos de história!